[Resenha]- Museu de Ciência, divulgação científica e hegemonia

Uma resenha de um artigo, escrita por Ingrid de Sousa Rodrigues Duarte.

LOUREIRIO, J. M. M. Museu de ciência, divulgação científica e hegemonia. Ciência da Informação. Brasília, v32, n. 1, 2003. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652003000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 17 mar 2008.

 

Museu de Ciência, divulgação científica e hegemonia

 

Neste artigo, Loureiro, apresenta uma análise do museu de ciência considerando as produções e disseminação das informações nas exposições. Acrescentando a isso, o impasse e as divergências em algumas reflexões teórico-conceituais dirigidas ao fenômeno informacional no interior dos espaços museológicos científicos públicos numa visão abordada por Gramsci. Portanto, o autor aplica esse conceito de hegemonia por Gramsci aos tipos de representações voltada a construção e transmissão da informação no ambiente do museu científico.

O autor relata o museu como um momento de memória, individuo e exposição dos bens culturais concretos e simbólicos que originam o patrimônio cultural; de modo a prover um campo de significados que permita o individuo e a sociedade uma continua experiência histórica e sociocultural. A origem do museu de ciência, colecionismo praticado durante os séculos XV e XVI, até nos contexto atual, houve uma transformação de sua identidade e suas funções, de acordo com contextos sociopolíticos e culturais em que se encontrava inserida. Somente no século XIX, os museus de ciências surgiram no Brasil numa visão filosófica e política que transformaram (…) costumes, padrões e visões (…) uma perspectiva pessimista na análise da situação nacional”, que permearam o universo científico de então, o positivismo, naturalismo e evolucionismo, acrescidos de influências do romantismo em suas reflexões acerca da cultura nacional.

Oficialmente os museus científicos são classificados pelo International Council of Museums (Icom/Unesco) em museus de história natural e museus de ciência e técnica. Através desta tipologia o autor mostra simplificadora, ao desconhecer a interpretação dos territórios temáticos dos museus científicos e também seu intercruzamento com museus de outra natureza.  Os tipos de museus científicos que se caracterizam por sua natureza e objetivos, oculta uma diversidade entre os vários tipos de museus científicos existentes. Sendo que na sistematização das coleções promovida, como ele aborda, “gabinetes de curiosidades” devido a ascensão da burguesia como classe hegemônica ao poder.

A partir do século XX, conceitos incorporaram nas reflexões do universo das instituições museológicas científicas chamadas de centros de ciência (science centers) e science centrum. Essa concepção iniciou nos Estados unidos, período da Guerra Fria para a difusão a ciência e os produtos tecnológicos utilizando meios de comunicação e exposições interativas, estruturadas o mais próximo com o método científico. Dessa forma, os museus científicos, ditos tradicionais, são diferentes dos centros de ciência nas suas exibições e seu potencial educativo, mas compartilhando os mesmos objetivos quanto a educação cientifica e técnica, pelo seu valor cultual que ela representa nas sociedades modernas. Portanto, para alguns a literatura acerca da instituição em apreço, conceituar o museu de ciência e os centros de ciência como fenômeno único, é necessário que haja distinção desses dois fenômenos. O centro de ciência está voltado à preservação, gestão e difusão da história, produtos e influências socioculturais da ciência e o museu de ciência se diferencia por meio da exposição museológica, como instrumento de divulgação científica.

A exposição museológica oferece inúmeras possibilidades interpretativas de sua realidade substantiva, sendo possível encontrar interpretação mais criativa da realidade, do passado e do presente.

Loureiro aborda a divulgação cientifica importante no contexto da comunicação cientifica que compreende sob perspectiva as ações vinculadas a produção, disseminação e o uso da informação, desde a concepção que origina a pesquisa cientifica, até sua aprovação como integrante do conhecimento científico. Dessa forma, o processo comunicação por parte dos próprios geradores dos conhecimentos ocorre através de canais heterogêneos de comunicação, classificados como formais e informais. Sendo que, os canais formais somente para a transmissão por meios de comunicação especializados, como periódicos, livros, monografias e obras de referência, enquanto a comunicação informal, a informação é apresentada entrapares pelo pesquisador obedecendo a procedimentos de formalização, integração e avaliação.

A comunicação cientifica aplica ao texto está veiculada de informações cientifica e tecnológica de acordo com o publico a que se destina e a linguagem empregada, podendo se subdividir-se em disseminação cientifica, difusão para especialistas e divulgação científica voltada para a circulação de informação em ciência e tecnologia para o publico em geral. A disseminação científica apresentada possui dois segmentos diferenciados: a disseminação intrapares compreende o fluxo informacional em ciência e tecnologia entre especialistas de uma mesma área do saber e áreas afins e a disseminação extrapores está voltada à propagação da informação científica e tecnológica, visando a especialidade de outras áreas do conhecimento.

De acordo com o texto, o autor acredita que os museus científicos constituir-se-iam espaços de divulgação cientifica na busca de transferir aos iniciados informações especializadas de natureza cientifica e tecnológica valendo-se da recodificação da linguagem e produtos a serem objetos musealizados. A instrumentalização e ênfase no objeto musealizado constituem os mais expressivos elementos que diferenciam a instituição museológica dos demais meios de divulgação científica,

A hegemonia foi refletida da obra de Gramsci, o conceito é concebido enquanto direção e domínio, isto é, como consenso através da persuasão e forma de oposição e luta contra as classes oponentes. A hegemonia atua não apenas no âmbito do econômico e político da sociedade, mas também sobre o modo de pensar, sobre as orientações ideológicas e inclusive sobre o modo de conhecer.

No universo gramscinano, portanto, a hegemonia é a capacidade de unificar através da ideologia e de conservar unido um bloco social não se restringindo ao aspecto político, mas compreendendo um fato cultural, moral, de concepção do mundo. O conceito de hegemonia se mostraria uma expressiva teoria que enseja uma contribuição interpretativa fundamental as investigações acerca dos fenômenos essenciais aos heterogêneos e complexos domínios do social, também permite-nos articular abordagens nas quais os quadros históricos, político-jurídicos, socioculturais e econômicos se forjam e interpenetram.

Baseado no conceito gramsciano de hegemonia, a classe dominante não depende única e tão-somente do pode do Estado ou de seu próprio poder,, mas se utiliza de um conjunto de relações, experiências e atividades para promover, junto as classes seu sistema de crenças. Nesse sentido, para o autor o museu público, organizado e dirigido a partir do Estado, constituir-se-ia espaço onde as classes dominantes buscariam persuadi, naturalizar e fazer com que as classes dominadas compartilhassem, seus valores morais, sociais e culturais.

A leitura do artigo permitiu ver as diferenças entre as exposições museológicas tradicionais daquelas alicerçadas em um modelo de exposição científica em que o mundo contemporâneo apresenta num aspecto mais lúdico com interatividade com o público. Sendo assim, o museu tem característica importante para o papel pedagógico, é claro que as críticas e observações feitas aos museus tradicionais e aos museus de ciência brasileiro permaneceriam a representação expositiva da ciência capitalista, o caráter de persuasão e o dirigismo cultural e ideológico como afirma o autor.

O artigo analisado trouxe-me muita dificuldade devido a linguagem empregada pelo autor e por não ter tido conhecimento de nenhuma obra de Gramsci, especificamente no caso do conceito de hegemonia para as representações das informações geradas e transferidas nas exposições dos museus científicos públicos brasileiros.

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